quarta-feira, 28 de março de 2012

LUCRANDO COM O CONTENTAMENTO


Quanto é o suficiente para lhe deixar satisfeito? Há pessoas que vivem permanentemente insatisfeitas tudo que têm não lhes é o bastante para se sentirem satisfeitas. São como saco furado, quanto mais tem mais desejam, jamais se sentem satisfeitas e completas. Sabemos que o ministério cristão é acima de tudo uma resposta à vocação Divina. O serviço prestado à causa Santa, via de regra, não será assumido por curiosidade, oportunismo ou sensibilidade. Estes elementos podem fazer parte do processo, mas nunca será o motivo principal pelo qual uma pessoa abraça a causa de Cristo. A razão disso, a meu ver, reside em alguns fatores: Em primeiro lugar, por causa da complexidade que envolve as tarefas relacionadas ao ministério cristão, principalmente quando a importância do trabalho e seu sucesso não dependem só do fazer, mas do como fazer e  quando. Segundo, quando  consideramos que o objeto  deste trabalho é o homem com suas diferenças, Terceiro pelo fato de que temos que prestar contas nada mais nada menos que ao próprio Deus. Em quarto lugar, por conta da atemporalidade do ministério; O serviço cristão não cessa, o trabalho pastoral parece que nunca termina. As 24 horas do dia não são suficientes para a conclusão das lides ministeriais, sempre fica um tanto da tarefa para o outro dia. Em quinto lugar, devemos considerar o alto grau de renúncia e entrega que o ministério exige. Tanto a Bíblia quanto a história da Igreja comprovam isso. As tendências liberais e a influencia neopentecostal malogram ante a tentativa de expurgar da vocação ministerial ou dela desassociar a ideia de sofrimento, resignação, renúncia e martírio, na tentativa de pintá-la com as cores vivas mensuradas como que por um caleidoscópio que permite uma visão otimista baseada na possibilidade do ganho, prestígio, posição, poder e riqueza. Estes tais esqueceram-se das palavras que, inspirado pelo Espírito Santo, Paulo dirigiu a Timóteo seu discípulo: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição.”(1 Timóteo 6:6-9 ) É um erro crasso entender que Paulo não fala de lucro financeiro, todavia devemos entender na visão de Paulo que qualquer ganho só tem sentido com o contentamento e que o ministério jamais pode se transformar numa fonte para se obter riquezas materiais como um fim em si mesmas. Porém não é de agora que descobriram a possibilidade de se ganhar vantagens e de se obter lucro financeiro com a pregação do evangelho ou com o exercício das funções ministeriais. No verso 5 deste mesmo capitulo o apóstolo denuncia a má influencia de obreiros que criam que o ministério era um meio de obter riquezas materiais. Porém Paulo explica que de fato a vida piedosa, o ministério cristão oferece lucro, um lucro chamado contentamento. Contentamento aqui é um estado de espírito corroborado com a ideia de preenchimento, satisfação, gozo e alegria indizível. Não se trata aqui de comodismo ou falta de ambição, pelo contrário. Experimenta um pouco deste prazer um artista que dá sua obra por terminada e um médico por vocação que vê seu paciente curado, é um sentimento tão nobre que preenche completamente e que faz sentir que valeu a pena.  Jesus usou uma figura bem própria para falar do prazer, fruto da missão e da vocação: A mulher, quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem. (João 16:21 ) Paulo experimentou este prazer quando disse aos Filipenses: “Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus.” (Filipenses 4:18  ) Chamo sua atenção para a palavra “suprido”. Esta expressão vem do grego plerooque significa cheio até o topo, pleno, completo. Não sei quanto em suprimento os Filipenses haviam enviado a Paulo, sei que não foi o suficiente para deixá-lo materialmente rico, mas foi o suficiente para deixa-lo satisfeito. Neste sentido não importa a quantidade, o contentamento é que é o verdadeiro lucro capaz de nos fazer sentir satisfeitos em toda e qualquer situação. “Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.” (Filipenses 4:11-13) Precisamos entender que as recompensas materiais nunca serão o bastante se destituídas do contentamento que brota naturalmente na alma do vocacionado  e que aumenta sua identificação com seu ministério. Lamento quando vejo obreiros recorrendo à justiça dos homens em busca de seus direitos. Alguns não recorrem à justiça, mas vivem a lamentar o dinheiro que deixaram de ganhar, as dificuldades que tiveram que passar. Estes tais, creio, nunca experimentaram o prazer do contentamento, do privilégio de ser coparticipante dos sofrimentos de Cristo, de ser agente na ação transformadora do evangelho que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê ( Rm.1.16) Um obreiro nunca receberá um salário compatível com trabalho que faz, mas receberá sempre o suficiente para suprir suas necessidades. Veja o que Paulo declara em Filipenses 4.19. Por tanto o obreiro que se considera vocacionado ao ministério se destaca dos oportunistas, dos que consideram o ministério como fonte de lucro ou meio fácil de ganhar a vida pelo simples fato de que seu ganho é o contentamento, a sensação de estar suprido e completo com muito ou pouco, em toda e qualquer situação. Este obreiro você nunca o verá na roda dos lamentadores, dos rebeldes, dos revoltados, e dos que movem ações para buscar direitos adquiridos pelo serviço no altar, dividindo igrejas, tomam de assalto o rebanho e esbulhando a denominação de seus bens  dos quais os tais se julgam donos.
Vivemos dias em que uma crise sem precedente tenta colocar em cheque a vocação ministerial fazendo surgir no cenário eclesiástico o ministério por profissão, destituído de paixão, renuncia, convicção de chamado, baseado apenas no desejo de ganho material, na autossatisfação e na possibilidade de, com facilidade granjear direitos pelos quais preterem em último caso até a honra e a reputação. Em outra ocasião, Paulo exorta a Timóteo dizendo:“Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos.”(2 Timóteo 1:6 ) Eu nunca esquecerei o dia em que o Bispo Gessé Teixeira de Carvalho auxiliado pelos membros do Conselho Ministerial no encerramento do Concílio de 1982, portanto, há 30 anos, quando colocaram as mãos sobre minha cabeça e me consagraram ao Ministério da Palavra. Naquele dia houve um soprar sobre as brasas da minha convicção de chamado, uma poça de lágrimas se formou junto aos meus joelhos no chão daquele auditório e eu me senti um gigante pronto para os desafios do campo. O tempo passa e de vez enquanto, eu preciso renovar aquelas brasas me expondo de novo aos ventos do Espírito Santo. Minha oração é que você também possa experimentar de novo este santo renovo capaz de lhe fazer consciente de sua vocação.

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